terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Vermouth Seco.

Para Ler Ouvindo: Sweet Disposition - Temper Trap

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Despertei.

Acordei, sei lá. Ás vezes é bom despertar para a realidade... Isso faz com que você provoque um sono inveterado e cruel, bom para que você saiba que está no comando e pode mudar.
Eu me sinto bem nesse instante de liberdade. Exatamente agora, me sinto incrivelmente bem pois deixei escapar um sorriso que estava distante da superfície dos lábios. Isso é bom quando você nem sabia mais como era sorrir.
Minha alma, enquanto ouvia uma canção triste, sorriu também, sem motivo algum, sorriu; por saber -como eu sei agora- que algo bom está se aproximando.
Não vem depressa, nem vem devagar; vem na velocidade que precisa caminhar.
Vem no meu tempo. Nosso tempo, que é o mesmo.

... Porque hoje o dia está perfeito e a noite é toda minha. Acredite! Eu acreditei... Por isso caminho nas estrelas hoje; é bom estar sempre aquecida. Café com leite tem gosto de infância e isso só me cai na mente porque eu deixo que venha.

Qualquer que seja o gosto do apego, eu não me lembro mais e, se minha memória refrescar meu paladar, eu tomo alguma coisa alcoólica que é bem para matar a saudade do apego, afinal, todo mundo se alinha a combinação de prazer e sofrer que a solidão causa.
A solidão é ignorada; ninguém a percebe. O corpo pede e a mente retribui chamando nos olhos, nos ouvidos, no sorriso, lágrimas, saudade...
Chama um tempo que tu acreditou ser feliz e completamente preenchida, sem buracos, sem espaços... Repleta. Sem nenhum espaço em branco, mas quando a lembrança passa por você, deixa um vazio maior ainda. E fica.
A lembrança é cruel, só porque você permite que seja.

Eu culpo. Ainda tenho o hábito de culpar quem me partiu em pedaços, mas todos os dias, um por um, um por vez, eu recolho minhas partes pelo chão. Recolho todas de uma vez num abraço bem apertado. Sempre há algumas que caem de volta ao chão, mas no outro dia eu torno a junta-las num outro abraço, para que elas saibam que eu as amo antes de qualquer coisa.
Assim eu vou aprendendo a não culpar os outros e me tornar responsável por aquilo que quero sentir; se quero me sentir bem, me sinto, sinto... Se quero me sentir mal, ninguém tem nada com isso.

Café com leite tem gosto de infância e, quando bebo, na mente passa um desenho animado como Tom & Jerry. Na boca sempre passa um riso e então Maria passa também.

Eu sempre quis entrar num bar qualquer, com um extenso balcão para o barman e uma junkebox no canto do salão. Começar no Dry Martini com azeitonas e deixar que Aretha Franklin faça o trabalho dela, apenas cantando e me mantendo de olhos fechados acompanhando os agudos discretamente com a cabeça. Terminar nas cervejas para limpar o gosto metálico de um beijo nem tão incrível assim e, agora, você começa a perceber que tudo aquilo não foi grande coisa.
As gotas do vermute seco não são grande coisa.
Todas as vezes que seu coração despedaçou não foi grande coisa. Todas as vezes que engoliu de uma vez o orgulho como engolia a dose do produto mais forte da prateleira, não foi. Todas as saídas que perdeu. As risadas que disfarçou com um arregalar de olhos apenas para não deixar alguém constrangido. As vezes que mentiu estar bem, porém nunca precisou assumir personagens, nesta parte você se orgulha.
E quando se sentiu exausta, tão cansada que mal sentia o espirito te movendo, acreditando fielmente que todas as emoções possíveis haviam desaparecido e começou a carregar uma carcaça, um corpo, apenas, sem nada mais, compreendeu.
Agora, à cada dose, você percebe, enfim, que tudo aquilo não foi grande coisa.
Percebe que pode suportar mais uma, duas, três ou quantas sessões de desespero quiser. Pode sobreviver a isso como sobrevive a um porre no dia seguinte. Pode sim, dissolver e amparar facilmente essas lembranças como engole as doses.

Nada foi grande coisa. O sofrimento não foi. As palavras bonitas que ouvia já ouvi antes. Vou ouvir as mesmas e outras criações. Vou até arriscar em dizer algumas, mas não vou morrer por não ouvir da mesma pessoa. Existe um mundo lá fora e bilhares de outras pessoas. Não me recordo do que fiz na semana passada, também não me lembro o que comi ontem no almoço, não será difícil esquecer alguém tão sem importância e de pouco valor como um dos milhares de clientes que passam pela loja onde trabalho.
Não dormirei pendurada no cabide, como diz minha queridíssima tia Laudicéia.
E se nesse tempo, em que eu me sentir solitária e ninguém notar, pois ninguém nota a solidão, conversarei comigo mesma, pois gosto de conversar com pessoas inteligentes.

Meia luz, todos os drinks que o corpo pode aguentar em uma única noite e, uma nova chance, para reaprender a viver de estrelas, sonhos e claro, outras canções e bilhões.

Um comentário:

Aline Ferreira disse...

Nossa seus textos me prendem do começo ao fim, cada vez mais tenho vontade me mergulhar e me afogar neles.