terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O peixinho dourado

Quando pequena, nunca soube explicar sobre as minhas dores. Não me lembro de ser daquelas crianças que faziam birra ou ficavam doentes por querer um briquedo novo ou quem sabe um doce antes do almoço. Minha dor de querer, era de pessoas que eu amava e precisava ter ao meu lado.
Quando era criança, não soltava da saia de Maria um minuto, não que isso tenha mudado muito, enfim. Quando ela cozinhava, eu costumava chegar bem de mansinho atrás dela e enfiar a cabeça por baixo de sua camiseta. Ela sempre adivinhava quem era e me chamava de peixinho dourado. Isso eu costumo chamar de carinho.

Certa vez, ela precisou fazer uma viagem para São Paulo. Uma de suas filhas ia até Paris e ela ficaria com minhas primas que na época eram pequenas. No 15° dia de sua ausência, eu comecei a adoecer. Não queria brinquedos, não queria comida, doces, nada! Só queria silencio. E era a única coisa que não me davam.
Numa noite de um dia qualquer, fazia muito calor na cidade -como de costume- e minha Mãe me banhava enquanto conversava comigo. Me lembro dessa cena como se tivesse acontecido ontem. Eu disse a ela, que meu coração doía muito e ela sempre tranquila por fora, disse que não era nada. Alguns minutos depois eu me queixei novamente e dessa vez, mostrei o tamanho da dor com as mãos. Antes que ela pudesse responder, desmaiei em seus braços sem me lembrar de mais nada. Clarissa, prima querida que cresceu comigo e presenciou a cena, disse que Mamãe começou a gritar desesperada dizendo que eu havia morrido. Típico dela se descontrolar por qualquer coisa.

Acordei no hospital, com soro e várias outras coisas pelo corpo que não lembro muito bem. Estava sozinha em um quarto, coisa rara de se acontecer hoje em dia e então, comecei a chorar. Nunca gostei de ficar sem companhia e até os 15 anos eu não dormia sozinha. Foi esse choro que chamou a atenção de minha Mãe que estava na porta conversando com o médico. Como bom profissional, ele disse que minha saúde estava impecável, e o motivo do meu mal estar, era a falta da Avó. Passaram 3 dias e eu continuei no hospital. Minha Mãe sempre foi muito preocupada com tudo e ficou ao meu lado o tempo todo. Eu não podia respirar de um jeito diferente que ela já vinha com algum remédio naturéba, vitaminas de beterraba e cenoura, mel... Entre outras coisas. Mas o meu remédio estava longe, e no 4° dia, telefonaram para a cura.

A cena é muito clara em minha mente. Eu estava deitada na cama do hospital olhando para a porta vendo o vai e vem das pessoas, minha Mãe precisou ir até minha casa para pegar roupas e olhar as pessoas passeando lá fora, me deixava mais confortável e acreditando que não estava sozinha. Vi uma sombra se aproximando do lado direito e fui medindo a pessoa dos pés até a cabeça. Quando vi aquele sorriso era como se todas as doenças do mundo acabassem de ser curadas ali mesmo. Era ela!

- Oi meu peixinho dourado...

Comecei a arrancar todas aquelas coisas que colocaram em meu corpo e fui até ela sorrindo, pulando, gritando pedindo que me levasse para casa pois não aguentava mais aquele lugar. Acreditem, todas as dores acabaram ali mesmo, mas ainda sim, não me deixaram ir para casa. Vovó me agradou um pouquinho e prometeu que no dia seguinte estaríamos em casa.
Depois de todos esses anos, eu ainda não aprendi a explicar minhas dores, mas aprendi a controla-las. Até porque, o meu remédio não está em outra Cidade, outro Estado nem País. O que eu quero só pode ser visto através de uma estrela. E pela manhã, quando as borboletas passeiam pelo jardim.

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