domingo, 20 de fevereiro de 2011

Amor de metrô parte III (O início)

Semanas haviam passado tão depressa quanto os 60 minutos de um horário de almoço. E mais uma vez ele estava lá. O garoto que a algumas semanas havia sofrido uma desilusão amorosa de metrô.
Já não pensava tanto nisso, mas as vezes os fleches daquela cena perseguiam seus pensamentos -tão pouco que ele nem se lembrava no minuto seguinte- Aquele velho banco por incrível que pareça, nunca ficava ocupado e foi ali que ele se acomodou.

Dessa vez, ele lia um livro, era "Feliz ano velho" e parecia muito concentrado. Se movia pouco e as vezes surgiam sorrisos com o canto dos lábios em seu rosto. Coçava a bochecha esquerda, e seus olhos brilhavam enquanto acompanhava as letras da pagina. Com o tempo, ele aprendeu a não observar tanto as pessoas ao seu redor, tinha medo que algo acontecesse com seu coração, como aconteceu da ultima vez.
Ele usava uma bermuda escura, um tenis encardido, e uma camiseta branca do filme Laranja Mecânica.
Enquanto lia o livro, mexia nos lábios com as mãos e balançava as pernas involuntariamente. Parecia nervoso, mas era a pessoa mais tranquila daquele lugar.

Ele sentiu uma mão fria em seu ombro, e como estava muito concentrado, demorou cerca de 3 segundos para levantar o olhar e ver quem era o maldito que havia interrompido sua leitura.
Quando levantou os olhos, não podia acreditar no que via, suas mãos começaram a suar e ele não podia esconder a surpresa em seus olhos e nos lábios que mostraram um leve sorriso.

- Feliz ano velho é? Gosto muito desse livro...

Sem nenhuma ideia de reação, ele a puxou pelo braço e deu um beijo em seu rosto como se fosse a única oportunidade. Sim, era a garota da estação. Ela se assustou no inicio, mas reagiu calmamente e acrescentou:

- E Laranja Mecânica é meu filme favorito.

Ele sorriu, olhou no relógio, 18:18 hrs. Não havia dito nada ainda a garota pois não acreditava no que estava acontecendo. Derrepente voltou ao seu estado normal e prontamente ofereceu seu acento a garota. Ela agradeceu, e disse que cabiam os dois. Ele ficou com medo no inicio, talvez alguma palavra poderia estragar o momento. Ficou com medo que ela vomitasse as palavras. Mas quando ela começou a falar, pareciam flores brotando de seus lábios. Ele havia se apaixonado ali. Mais uma vez.

Como no "primeiro encontro"as horas foram passando, até a estação se esvaziar. Eles conversavam sobre tudo e tiveram até uma discussão saudável: Ele dizia que Al pacino era melhor que Robert de Niro e ela achou aquilo um absurdo, mas logo concordaram que a atuação dos dois são impecáveis.
O vagão chegou, e ela se levantou.

- Você vem comigo?

Ele sorrindo, segurou sua mão. Ela já não descansava a cabeça em uma janela, mas sim, no ombro dele.

A timidez de ambos parecia não existir mais, e ele até brincava com os cabelos da garota. Ela continuava com a cabeça apoiada e sentia o calor de sua pele. Conversava com os olhos fechados e parecia guardar cada palavra que ele dizia. O timbre de sua voz era calmo e sonolento, ela adorava voz sonolenta.
Ele então, se lembrou do garoto que a esperava na catraca da ultima vez. Gentilmente levantou a cabeça da garota e disse que alguém poderia se zangar se os vissem juntos.
Ela, sem entender perguntou:

- Quem?

Ele então, contou toda a história, desde o inicio. Contava tantos detalhes que parecia ter acabado de acontecer. Ela sorriu e disse:

- Então foi isso que te impediu de colorir meus dias?

Ele então respondeu meio confuso:

- E parece que mais uma vez, vão te tirar de mim... Pode ir, eu desço na próxima estação, não me importo de voltar caminhando, só não aguentaria aquela cena novamente...

O trem parou. Ela só tinha alguns segundos. Se levantou rapidamente, pegou suas coisas e deixou um beijo com ele. Com um sorriso nos lábios, disse com toda a felicidade do mundo:

- Aquele é meu irmão, ele sempre vem me buscar. Nos veremos amanhã, no mesmo lugar certo? 
Se você soubesse o quanto eu já te adoro... Se você soubesse o quanto eu poderia te amar, seria incrível...

Ela correu. A porta se fechou. E ele continuou sentado pensando no beijo e nas palavras do seu amor do metrô. Não se importou em andar algumas quadras, já que havia perdido a estação.
Puxou a gola de sua camisa que ainda estava aquecida pelo rosto da garota, e pôde sentir seu perfume.

- É... Vai ser incrível... Disse ele sorrindo.

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