quarta-feira, 11 de maio de 2011

Uma veste em preto e branco

O relógio despertou e com ele Adélia, que lamentava-se por mais uma noite de sono corrompida.
Enquanto dormia, ela se desligava do mundo tentando esquecer todas as mágoas de passados e presentes,  futuros e dias, horas e segundos...
Durante a noite, ela podia sonhar aquela realidade tão provocante que a fazia pensar em suicídio e sonhos eternos. - Só mais uns minutos, e eu me levanto para que o diabo possa se lamentar. Pensou.
Os lençóis aquecidos em tons rosados e os olhos tão pesados não cediam outros movimentos a não ser se contorcer e gemer delicadamente aproveitando aquele despertar tão amargo.
Naquela manhã de Abril, ah Abril... Abriu os olhos e alisou os cabelos olhando para o teto que era tão assim, cheio de estrelas.
Irritou-se quando tomou razão de que tinha o dever de se levantar e viver para os outros sem viver para si mesma. Assentou o pé direito no chão e disse: - Hoje será um grande dia.
Que bobagem! Ela sabia que não seria, mas só para dizer que não havia tentado, fez um pedido e sorriu com sarcasmo. Que seja, não tinha nada a perder.
Eram sete horas da madrugada como ela dizia - Eu poderia estar sonhando com maçãs e pecados saborosos, mas é hora de viver e estragar tantos desejos e possíveis amores hoje, quem sabe até comprimir o que resta do meu coração.
Adélia se levantou então, cantarolando a canção que ouviu em sonho e esbarrou em Maria que logo disse:
- Bom dia!
- Ah, hoje vou viajar. Vou desaparecer dentro de alguém que se encontrou em mim e vou tratar de descobrir o amor como nunca busquei em muitos anos de vida mal gastos.
Maria sorriu. E sentindo um mal presságio, desejou boa sorte.
Quando saiu, ainda pela manhã, foi até uma lojinha. Dessas que se encontra por acaso como a da Rua Prudente de Morais e decidiu parar. - Bom dia. Quero uma lingerie. Disse ela sem qualquer pudor.
A moça que a abordou sorriu e a levou até as inúmeras cores e tonalidades e desenhos e tudo o que essa coisa de roupa intima feminina exige. - Quero essa! Disse ela sem escolher muito.
- A mais apagada? Com tantas cores aqui? Escolha essa, vermelha, o que acha?
- Obrigada, mas quero essa. Não tenho intenção de usa-la, mas caso o amor se encante com meu rosto pálido sem maquiagem, posso permitir que ele sinta o perfume daquela que já roubou o aroma de meu corpo. Esse exagero todo não é nada, quando o amor é sensível e me deseja seja qual for o disfarce ou fingimento. Quero essa! Apenas quero por favor.
Com espanto, a vendedora, também confusa, apenas atendeu o pedido sem insistir mais.
- Uso tamanho M. Completou Adélia. Como pode ver, não sou como as cariocas cheias de curvas que causam inveja, mas posso causar um impacto de parar o transito. Brincou.
Pegou, pagou, e levou aquela que seria esquecida e odiada sem ao menos tomar o corpo da garota.
Saindo dali Adélia voltou para casa e pegou uma mochila, colocou uma única peça de roupa, produtos higiénicos e nenhuma maquiagem. Vestiu qualquer roupa também mal penteou os cabelos e assim foi. Foi de qualquer jeito do mesmo modo que estava seu coração pois sabia que iriam torna-lo tão belo quanto aquela paisagem francesa. Foi para estragar seu coração sem saber acreditando que o montariam novamente. Foi sorrindo e acompanhada da lingerie preta e branca com detalhes em renda fina discreta pensou:
- Quero que te sintam em mim e quero também sentir todo aquele prazer de café da manhã que desejo no sorriso que esconde o choro. Vou matar minha agonia e junto dela a timidez com medo de fantasia. Vou para o amor que guardei com tanto cuidado para aquele outro amor que acredito ser meu.
Adélia era a segurança em pessoa. Estava linda por dentro e sabia o que iria encontrar caso o acaso não cometesse um engano. Ela sorria baixinho enquanto via as folhas de outono passando pela janela e pensava na leve brisa daquele olhar que seria sua cura. Dentro do onibus, pensava nos detalhes que o mundo desprezava e imaginava as caricias maliciosas que pareciam reais já de outros carnavais. E assim, Adélia dormiu para sempre.
Ainda na Rodovia Raposo Tavares o motorista do onibus que a pobre sonhadora ocupava perdeu o controle da direção e o veiculo capotou. Todos os passageiros sobreviveram com escoriações leves, graves e outros ilesos, mas ela, perdeu-se nas ilusões, e tranquila se foi...
Desfaleci antes mesmo de conhecer o amor.
Apesar da morte ser tão violenta, meu corpo permaneceu intacto com aquela beleza que um dia preservaram. O estrago foi por dentro, mas isso ninguém podia ver.
Na mochila, encontraram a lingerie ainda com etiqueta acompanhada de um cartão rosa em envelope vermelho que dizia:

"Esperei tanto por você. Quis tanto você em meus braços, e agora estou aqui caminhando na sua pressa tranquila como o nosso amor que está prestes a nascer. Não me importa o modo como vou te ver, falo agora sem saber que em minha mente te vejo uma obra prima e, daqui um tempo, vou dizer mais uma vez. Você é o que eu sempre desejei em sonho. Nós seremos as respostas um do outro assim como fomos no primeiro "Oi". Você está em mim como fruta está para pecado. Você é a causa dos meus arrepios e o motivo dos meus suspiros de amor. Estou indo para você cobertor, aqueça meu coração tão congelado com a ausência da luz solar. I'm in love, and I hope loving you."




2 comentários:

Lua ∞ disse...

Avisa essa mulher que ela vai ressucitar e conhecer o amor por muito tempo ainda.
Recado da dona Lua. :*

Bianca Argolo =) disse...

nossa, amei os textos, são lindos ...
estou seguindo bb ,segue de volta ?
http://anotherstrangegirl.blogspot.com/