sábado, 19 de fevereiro de 2011

Amor de metrô parte I

Sentado em uma estação de metrô, como de costume, um garoto avistou de longe uma garota. Parecia não estar ali para o resto da multidão das 18:00 horas, mas também, apenas seu corpo estava presente. Era uma garota magra de cabelos longos e presença séria. Ela usava uma regata branca, um jeans e um ténis encardido. Nas costas, uma mochila preta e nenhuma maquiagem no rosto. Mesmo assim, o rapaz a via tão linda quanto uma borboleta que acabou de sair do casulo.

O vai e vem de vagões continuava, e a garota nem se movia. Parecia não ter pressa. E o garoto, também parecia não se importar em perder o jantar ao chegar tarde em casa. Continuou ali, observando e tentando ler os pensamentos da garota que estava apenas com o corpo escorado na parede fria de uma estação qualquer.

O garoto não conseguia mudar a direção do olhar.  Só o desviava quando alguém o interrompia com alguma sacola batendo em sua perna, mas alguns minutos depois, isso passou a não importar mais. Enquanto isso, os segundos passavam. Minutos, horas, e ele continuava ali, observando. Passou pela sua cabeça o fato de ela estar esperando por alguém, mas ele não se importou. Também pensou que era melhor ir embora. Guardar apenas aquela cena em sua memoria seria perfeito, mas não. Ele continuou ali, medindo cada movimento da garota... Os olhos pelas letras da pagina do livro, a coceirinha em sua bochecha esquerda, o morder dos lábios, tudo! E assim, passaram-se horas. Até que finalmente, a estação esvaziou-se. Para ele, aquelas horas foram segundos... E num piscar de olhos, haviam apenas duas senhoras do outro lado no vagão sentido jabaquara, e os dois corações sem rumo do outro lado.

O rapaz não se importava com mais nada. Ele só a olhava com uma satisfação tão profunda, que se sentia no dever de ir agradece-la por aquilo. Sem que ele pudesse se preparar, ela levantou o olhar. Parecia saber que ele estava ali a observando o tempo todo pois seus olhos foram direto nos dele. Foi um olhar de dois segundos e ele se espantou. Ela deu uma volta pela estação com os olhos, e abaixou a cabeça novamente.
O coração do garoto parecia saltar pela boca, e ele sorriu com timidez.

O trem se aproximou e ela fechou seu livro azul sem nome, sem imagens... sem nada. Discreto, ele entrou no mesmo vagão que a garota, e sentou-se em um lugar onde teria vista privilegiada. A garota, puxou os fones de ouvido da mochila, fechou os olhos, e descansou a cabeça na janela do trem. Ali, ele tinha certeza de que via um anjo dormir. Ficou aliviado por conseguir guardar aquelas imagens sem nenhuma interrupção, e ficou feliz, dessa cena ter se estendido até o sono da garota.

Num susto, a garota se levantou. Havia chego em sua estação, e incrivelmente surpreso o garoto se levantou. Aquela também era sua estação. Ele pensou em falar com ela desde o momento em que a viu escorada na parede fria da estação, mas talvez aquele não fosse o momento certo. Talvez ele pudesse acompanha-la até sua casa, afinal, já era tarde. Mas que pena, já havia alguém esperando por ela na catraca. Ao ver aquilo, o garoto se desmanchou sem conseguir sair do lugar.

Talvez, se ele obedecesse seus pensamentos, poderia ser poupado daquilo. Deveria ter parado quando seu coração disse, mas não. Ele queria mais. Não se contentou em vê-la dormir também, ainda queria mais. Agora tudo o que ele tem, é a imagem que conseguiu apagar tudo o que ele registrou.




Mas quem sabe, essa história não pode acabar melhor. Quem sabe...

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